sexta-feira, 4 de maio de 2012

Atleticanização em 6 Atos


Foguetes, buzinaço, gritarias... Espera aí, o Cruzeiro foi campeão? Não. Qual o motivo do alvoroço, então? Há alguns anos eu diria que um grande jogador foi contratado então, ou até mesmo que um ídolo estava de volta. Mas hoje, basta um fracasso do rival, que a festa está armada. Não vou ser hipócrita de dizer que sou contra brincadeiras e rivalidade inerentes ao futebol, mas um fato me preocupa: a atleticanização. E para entender melhor esse fenômeno, dividi a sua evolução em 6 atos:

1)      Rural vale: historicamente, o Atlético-MG tem se apegado a conquistas de Campeonato Mineiro por falta de títulos de expressão. O Cruzeiro, desde 2003, só conquistou campeonatos rurais e, a cada conquista, a festa da torcida, carente por títulos, aumenta.
2)      A culpa é do juiz: se perguntar a algum atleticano, o CA Mineiro só não tem Libertadores (quiçá Mundial!) por causa de arbitragem. O Cruzeiro sempre foi campeão contra tudo e contra todos, inclusive juiz. Se perguntar para um cruzeirense hoje, vai ouvir que não ganhamos o Brasileirão em 2010 por culpa de arbitragem.
3)      Qualquer um pode ser ídolo: diferentemente do rival alvinegro onde Reinaldo, Marques e Cia. foram ídolos sem conquistas de expressão, no Cruzeiro, um título importante era praticamente pré-requisito para ser ovacionado pela torcida. Hoje, jogadores que passaram em branco por aqui como Fred e Kléber, já são idolatrados.
4)      Clássico vale campeonato: para o Atlético-MG, além de títulos estaduais, uma das grandes (e únicas) alegrias sempre foi vencer o rival celeste. Uma vitória em clássicos sempre foi para os alvinegros como um título de grande expressão. Essa realidade já toca os cruzeirenses, que se esquecem de toda uma temporada ruim por causa de uma vitória acachapante sobre o rival.
5)      Permanência na Série A é para ser celebrada: não é de hoje (tampouco de ontem) que o Clube Atlético Mineiro vem, ano após ano, lutando para não cair no Campeonato Brasileiro. E quando alcançam o objetivo de permanecer na primeira divisão (o que não aconteceu apenas em uma ocasião), comemoram com grande festa. Jamais iria imaginar como era essa sensação, até senti-la e, de fato, fazer festa.
6)      Derrota do rival é vitória: desculpem a expressão, mas é o famoso “gozar com o pau dos outros”, uma especialidade alvinegra. Não foram poucas as vezes que fizeram festa e vestiram camisas de outros clubes que superaram o Cruzeiro. Do lado de cá, sempre foi uma diversão a mais “secar” o CA Mineiro, mas nunca mereceu nossa atenção principal, até porque o Cruzeiro alcançava conquistas muito maiores que as derrotas alvinegras. No entanto, há algum tempo que o cruzeirense se contenta em comemorar derrotas do rival e até mesmo se esquece dos problemas inerentes ao próprio clube.

Brincadeiras, chacotas e rivalidade fazem parte do futebol, no entanto não se pode esquecer os próprios problemas para apontar problemas alheios. É sempre bom ver a derrota (tão rotineira) do rival, porém, a longo prazo, ela é responsável direta pela fase a que chegamos. Há anos que o Cruzeiro é o único clube do estado que representa o futebol com grandeza. Poderia o Atlético-MG ter buscado se superar para nivelar o futebol mineiro por cima, mas ao invés disso foi o Cruzeiro que caiu. Infelizmente, nivelou-se o futebol por baixo. Não fomos rebaixados à segunda divisão do futebol brasileiro, mas muito pior que isso, fomos rebaixados à condição de atleticano.

Obs: Por que 6 atos? São sintomas da atleticanização...