Foguetes, buzinaço, gritarias... Espera aí, o
Cruzeiro foi campeão? Não. Qual o motivo do alvoroço, então? Há alguns anos eu
diria que um grande jogador foi contratado então, ou até mesmo que um ídolo estava
de volta. Mas hoje, basta um fracasso do rival, que a festa está armada. Não
vou ser hipócrita de dizer que sou contra brincadeiras e rivalidade inerentes
ao futebol, mas um fato me preocupa: a atleticanização. E para entender melhor
esse fenômeno, dividi a sua evolução em 6 atos:
1) Rural vale:
historicamente, o Atlético-MG tem se apegado a conquistas de Campeonato Mineiro
por falta de títulos de expressão. O Cruzeiro, desde 2003, só conquistou
campeonatos rurais e, a cada conquista, a festa da torcida, carente por títulos,
aumenta.
2) A culpa é do juiz: se perguntar a algum atleticano, o CA Mineiro só não tem Libertadores
(quiçá Mundial!) por causa de arbitragem. O Cruzeiro sempre foi campeão contra
tudo e contra todos, inclusive juiz. Se perguntar para um cruzeirense hoje, vai
ouvir que não ganhamos o Brasileirão em 2010 por culpa de arbitragem.
3) Qualquer um pode ser ídolo: diferentemente do rival alvinegro onde Reinaldo, Marques e Cia. foram
ídolos sem conquistas de expressão, no Cruzeiro, um título importante era
praticamente pré-requisito para ser ovacionado pela torcida. Hoje, jogadores
que passaram em branco por aqui como Fred e Kléber, já são idolatrados.
4) Clássico vale campeonato: para o Atlético-MG, além de títulos estaduais, uma das grandes (e
únicas) alegrias sempre foi vencer o rival celeste. Uma vitória em clássicos
sempre foi para os alvinegros como um título de grande expressão. Essa
realidade já toca os cruzeirenses, que se esquecem de toda uma temporada ruim
por causa de uma vitória acachapante sobre o rival.
5) Permanência na Série A é para ser celebrada: não é de hoje (tampouco de ontem) que o Clube
Atlético Mineiro vem, ano após ano, lutando para não cair no Campeonato
Brasileiro. E quando alcançam o objetivo de permanecer na primeira divisão (o
que não aconteceu apenas em uma ocasião), comemoram com grande festa. Jamais
iria imaginar como era essa sensação, até senti-la e, de fato, fazer festa.
6) Derrota do rival é vitória: desculpem a expressão, mas é o famoso “gozar com o pau dos outros”, uma
especialidade alvinegra. Não foram poucas as vezes que fizeram festa e vestiram
camisas de outros clubes que superaram o Cruzeiro. Do lado de cá, sempre foi
uma diversão a mais “secar” o CA Mineiro, mas nunca mereceu nossa atenção
principal, até porque o Cruzeiro alcançava conquistas muito maiores que as
derrotas alvinegras. No entanto, há algum tempo que o cruzeirense se contenta
em comemorar derrotas do rival e até mesmo se esquece dos problemas inerentes
ao próprio clube.
Brincadeiras,
chacotas e rivalidade fazem parte do futebol, no entanto não se pode esquecer
os próprios problemas para apontar problemas alheios. É sempre bom ver a
derrota (tão rotineira) do rival, porém, a longo prazo, ela é responsável
direta pela fase a que chegamos. Há anos que o Cruzeiro é o único clube do
estado que representa o futebol com grandeza. Poderia o Atlético-MG ter buscado
se superar para nivelar o futebol mineiro por cima, mas ao invés disso foi o
Cruzeiro que caiu. Infelizmente, nivelou-se o futebol por baixo. Não fomos
rebaixados à segunda divisão do futebol brasileiro, mas muito pior que isso,
fomos rebaixados à condição de atleticano.
Obs: Por que 6 atos? São sintomas da atleticanização...